Por que Cristãos Devem Casar Com Cristãos ?

Escrito em 04/05/2024
Equipe Maanaim


Fonte: https://coalizaopeloevangelho.org/


Durante meus anos discipulando universitários e jovens de 20 e poucos anos, frequentemente ouví a seguinte pergunta “Um cristão pode namorar uma não-cristã?” (ou vice versa). Por crer que cristãos só devem namorar com o propósito de identificar um cônjuge, acredito que a questão fundamental seja: “Posso casar com um não-cristão?”.

A Bíblia apresenta uma resposta simples para essa pergunta: não. Entretanto, com o tempo, descobri que essa resposta simples é simplesmente insatisfatória para muitos. Esteja você enfrentando essa dúvida ou discipulando um ente querido em dúvida, precisamos embarcar na árdua jornada de entender por que a Bíblia instrui os cristãos a não se casarem com não-cristãos. Nesse percurso, descobriremos uma visão de maior beleza e louvor a Deus, uma visão que os cristãos com intenção de casar devem almejar e não ressentir.

A Unidade da União

Assim como acontece com a maioria das grandes dúvidas existenciais, a resposta para essa pergunta tem origem no Jardim do Éden. Quando questionado especificamente sobre o casamento, em Mc 10.2 (“É lícito ao marido repudiar sua mulher?”), Jesus começou se referindo ao passado. O propósito inicial para o casamento serviu como base para a resposta de Jesus sobre como abordar o assunto no presente. E isto necessita ser também a base para nós.

No princípio, o ápice da criação de Deus é a humanidade (homem e mulher), as únicas criaturas feitas à Sua imagem (Ge 1.27). Na página seguinte, lemos sobre como Eva foi feita a partir de Adão e trazida a ele para se enlaçarem em uma união de “uma só carne” (2.22-24).

Ao refletirmos sobre essa união de uma só carne devemos pensar em uma união por solda e não por cola. Quando na minha oficina, quero juntar firmemente dois pedaços de madeira, eu os uno com cola. A cola é uma substância muito eficaz para juntar as duas partes, mas, no fim das contas, as partes continuam sendo duas. Já na metalurgia, usamos a solda para fundir duas partes em uma. Os metais que estão sendo unidos derretem e se misturam para formar algo realmente novo a partir de duas partes—uma junção mais poderosa que uma simples colagem. Os metais se desfazem de sua individualidade para se tornarem algo novo e diferente do que eram individualmente.

De modo semelhante, o casamento não se trata simplesmente de um homem e uma mulher unidos por um contrato criado pelo ser humano. Eles se fundem e formam algo novo por meio de uma aliança sustentada por Deus. Mas, obviamente, a queda em Gênesis 3 mudou o casamento—assim como todas as outras coisas—para sempre.

O Propósito do Mandamento

À medida em que a história da redenção se desenrola, após a queda, o casamento absorveu aberrações horrendas nas mãos dos humanos caídos.

Passando para além dos patriarcas e seus reveses, quando o povo de Israel estava no deserto, Deus lhes deu leis sobre o casamento. Em Êxodo, Deus proíbe seu povo de se casar com as filhas da terra que Ele lhes deu, pois aquelas mulheres fariam seu povo rejeitá-Lo e adorar outros deuses (Êx 34.11-16). Essa instrução foi reiterada em Deuteronômio, antes de o povo entrar na terra prometida (Dt 7.3-4), e Neemias a enfatiza novamente na cerimônia de renovação da aliança descrita no capítulo 10, quando o povo retornou do exílio na Babilônia.

Embora esse mandamento possa parecer estranho no mundo ocidental do século XXI, as proibições de Deus quanto ao casamento entre seu povo e as outras nações não são racistas, mas religiosas. Deus se preocupa com a pureza da adoração do seu povo, e não com a pureza de sua linhagem sanguínea. A necessidade de tal proibição é exemplificada claramente na vida do Rei Salomão.

Salomão: Estudo de Caso

Salomão agradou a Deus ao pedir apenas sabedoria para liderar o povo de Deus (1Rs 3.10). Por isso, Deus deu a ele riqueza e sabedoria jamais igualadas no mundo (4.29-34). Gente de todo o mundo conhecido ia até ele para se maravilharem com sua sabedoria e governo, e bendiziam ao Senhor por causa dele (10.1-10). Mas, tragicamente, Salomão se casou com muitas estrangeiras que o afastaram do Senhor, e “seu coração não era de todo fiel para com o Senhor, seu Deus” (11.4).

Mesmo com a riqueza da sabedoria de Deus ao seu dispor, Salomão se desviou da verdadeira adoração a Deus ao se casar com mulheres que não amavam a Deus. Por que muitos de nós pensamos que conosco seria diferente?

A propósito, nunca conheci uma cristã cujo esposo incrédulo a tenha ajudado a crescer na fé e aproximar-se do Senhor. Porque, quando uma cristã casa com um não-cristão, ela se funde em uma união com o mundo. O cristão não é apenas anexado, mas sim fundido aos caminhos da impiedade com um cônjuge que rejeita os caminhos do reino de Deus.

‘Mas Isso Foi Com Israel. Como é Com a Igreja?’

Dando seguimento à história da redenção, após o estabelecimento da entidade geopolítica de Israel por meio da velha aliança, passando pela cruz e a ressurreição de Jesus, e pela era da igreja definida pela nova aliança, o princípio permanece o mesmo. O casamento não mudou, e nem Deus. Embora o reino de Deus não seja definido por limites físicos, mas se estenda até os confins da terra, o povo de Deus ainda é uma “nação santa” chamada a ser santa como Ele é santo (1Pe 2.9,15).

Ao reiterar essa ética conjugal em suas cartas aos Coríntios, Paulo reconhece que, quando uma pessoa se torna cristã e já é casada com um não-cristão, ela não deve buscar o divórcio, demonstrando, assim, que Deus honra os casamentos verdadeiros em geral (1Co 7.12-17). Entretanto, Paulo também diz que os que não são casados, mas têm essa intenção, devem casar-se “somente no Senhor” (v. 39). Além disso, falando mais amplamente sobre a igreja, Paulo explica que não nos devemos colocar “em jugo desigual com os incrédulos” (2Co 6.14), pois isso polui nossa adoração ao rejeitar fundamentalmente nossa natureza em Cristo.

A Finalidade Principal do Casamento

Por que você deseja se casar? Talvez seja pela companhia, ou, quem sabe, esteja buscando uma “pessoa boa” com quem possa sossegar e começar uma família. Não são desejos ruins em si, mas devemos sempre buscar submeter nossos desejos à vontade revelada de Deus e viver de acordo com Seus propósitos. Necessitamos perguntar: qual a finalidade do casamento?

Quando um navio iça suas velas, ele é levado pelo vento, seja essa a intenção ou não. Foi assim que ele foi projetado. Da mesma forma, quando um homem e uma mulher incrédulos se comprometem em um casamento para a vida toda, fidelidade ao cônjuge e a construção de uma família, eles serão levados pelo vento. Deus ama a instituição do casamento, e não-cristãos podem ter um bom casamento e fazer o bem em sua união. Entretanto, os cristãos não estão interessados apenas em serem levados pelo vento, mas em deleitar o Criador do navio.

O casamento, assim como a vida cristã como um todo, tem o propósito principal de glorificar a Deus, e, quando vivemos para isso, descobrimos que assim podemos ter alegria. Paulo notoriamente diz que, quando o marido morre continuamente para si mesmo e a mulher submete-se em amor à liderança cruciforme de seu esposo, o evangelho de Cristo é demonstrado ao mundo (Ef 5.21-33). O objetivo para maridos e esposas no casamento é resplandecer como manifestações vivas do amor de Jesus. Não podemos ter a expectativa de que nosso casamento irá refletir plenamente esse mistério se aceitarmos propositalmente fazer essa aliança com alguém que não crê que Jesus é o Senhor.

Necessitamos sempre manter em mente o real propósito do casamento. A glória e resplendor de Deus e o desejo dado pelo Espírito de levar adiante o Evangelho necessitam informar nossos pensamentos sobre o casamento. Desta maneira, nos unimos em casamento com alguém que nos ajudará a correr a carreira com perseverança (Hb 12.1), adorar a Deus da forma correta, e proclamar Seu evangelho para o mundo, para Sua glória e nosso próprio bem.

Traduzido por Renata Jarillo de Restrepo.