Fonte: https://coalizaopeloevangelho.org/
Durante meus anos discipulando universitários e jovens de 20 e poucos anos, frequentemente ouví a seguinte pergunta “Um cristão pode namorar uma não-cristã?” (ou vice versa). Por crer que cristãos só devem namorar com o propósito de identificar um cônjuge, acredito que a questão fundamental seja: “Posso casar com um não-cristão?”.
A Bíblia apresenta uma resposta simples para essa pergunta: não. Entretanto, com o tempo, descobri que essa resposta simples é simplesmente insatisfatória para muitos. Esteja você enfrentando essa dúvida ou discipulando um ente querido em dúvida, precisamos embarcar na árdua jornada de entender por que a Bíblia instrui os cristãos a não se casarem com não-cristãos. Nesse percurso, descobriremos uma visão de maior beleza e louvor a Deus, uma visão que os cristãos com intenção de casar devem almejar e não ressentir.
A Unidade da União
Assim como acontece com a maioria das grandes dúvidas existenciais, a resposta para essa pergunta tem origem no Jardim do Éden. Quando questionado especificamente sobre o casamento, em
(“É lícito ao marido repudiar sua mulher?”), Jesus começou se referindo ao passado. O propósito inicial para o casamento serviu como base para a resposta de Jesus sobre como abordar o assunto no presente. E isto necessita ser também a base para nós.No princípio, o ápice da criação de Deus é a humanidade (homem e mulher), as únicas criaturas feitas à Sua imagem (
). Na página seguinte, lemos sobre como Eva foi feita a partir de Adão e trazida a ele para se enlaçarem em uma união de “uma só carne” ( ).Ao refletirmos sobre essa união de uma só carne devemos pensar em uma união por solda e não por cola. Quando na minha oficina, quero juntar firmemente dois pedaços de madeira, eu os uno com cola. A cola é uma substância muito eficaz para juntar as duas partes, mas, no fim das contas, as partes continuam sendo duas. Já na metalurgia, usamos a solda para fundir duas partes em uma. Os metais que estão sendo unidos derretem e se misturam para formar algo realmente novo a partir de duas partes—uma junção mais poderosa que uma simples colagem. Os metais se desfazem de sua individualidade para se tornarem algo novo e diferente do que eram individualmente.
De modo semelhante, o casamento não se trata simplesmente de um homem e uma mulher unidos por um contrato criado pelo ser humano. Eles se fundem e formam algo novo por meio de uma aliança sustentada por Deus. Mas, obviamente, a queda em Gênesis 3 mudou o casamento—assim como todas as outras coisas—para sempre.
O Propósito do Mandamento
À medida em que a história da redenção se desenrola, após a queda, o casamento absorveu aberrações horrendas nas mãos dos humanos caídos.
Passando para além dos patriarcas e seus reveses, quando o povo de Israel estava no deserto, Deus lhes deu leis sobre o casamento. Em Êxodo, Deus proíbe seu povo de se casar com as filhas da terra que Ele lhes deu, pois aquelas mulheres fariam seu povo rejeitá-Lo e adorar outros deuses (
). Essa instrução foi reiterada em Deuteronômio, antes de o povo entrar na terra prometida ( ), e Neemias a enfatiza novamente na cerimônia de renovação da aliança descrita no capítulo 10, quando o povo retornou do exílio na Babilônia.Embora esse mandamento possa parecer estranho no mundo ocidental do século XXI, as proibições de Deus quanto ao casamento entre seu povo e as outras nações não são racistas, mas religiosas. Deus se preocupa com a pureza da adoração do seu povo, e não com a pureza de sua linhagem sanguínea. A necessidade de tal proibição é exemplificada claramente na vida do Rei Salomão.
Salomão: Estudo de Caso
Salomão agradou a Deus ao pedir apenas sabedoria para liderar o povo de Deus (
). Por isso, Deus deu a ele riqueza e sabedoria jamais igualadas no mundo ( ). Gente de todo o mundo conhecido ia até ele para se maravilharem com sua sabedoria e governo, e bendiziam ao Senhor por causa dele ( ). Mas, tragicamente, Salomão se casou com muitas estrangeiras que o afastaram do Senhor, e “seu coração não era de todo fiel para com o Senhor, seu Deus” ( ).Mesmo com a riqueza da sabedoria de Deus ao seu dispor, Salomão se desviou da verdadeira adoração a Deus ao se casar com mulheres que não amavam a Deus. Por que muitos de nós pensamos que conosco seria diferente?
A propósito, nunca conheci uma cristã cujo esposo incrédulo a tenha ajudado a crescer na fé e aproximar-se do Senhor. Porque, quando uma cristã casa com um não-cristão, ela se funde em uma união com o mundo. O cristão não é apenas anexado, mas sim fundido aos caminhos da impiedade com um cônjuge que rejeita os caminhos do reino de Deus.
‘Mas Isso Foi Com Israel. Como é Com a Igreja?’
Dando seguimento à história da redenção, após o estabelecimento da entidade geopolítica de Israel por meio da velha aliança, passando pela cruz e a ressurreição de Jesus, e pela era da igreja definida pela nova aliança, o princípio permanece o mesmo. O casamento não mudou, e nem Deus. Embora o reino de Deus não seja definido por limites físicos, mas se estenda até os confins da terra, o povo de Deus ainda é uma “nação santa” chamada a ser santa como Ele é santo (
).Ao reiterar essa ética conjugal em suas cartas aos Coríntios, Paulo reconhece que, quando uma pessoa se torna cristã e já é casada com um não-cristão, ela não deve buscar o divórcio, demonstrando, assim, que Deus honra os casamentos verdadeiros em geral (
). Entretanto, Paulo também diz que os que não são casados, mas têm essa intenção, devem casar-se “somente no Senhor” ( ). Além disso, falando mais amplamente sobre a igreja, Paulo explica que não nos devemos colocar “em jugo desigual com os incrédulos” ( ), pois isso polui nossa adoração ao rejeitar fundamentalmente nossa natureza em Cristo.A Finalidade Principal do Casamento
Por que você deseja se casar? Talvez seja pela companhia, ou, quem sabe, esteja buscando uma “pessoa boa” com quem possa sossegar e começar uma família. Não são desejos ruins em si, mas devemos sempre buscar submeter nossos desejos à vontade revelada de Deus e viver de acordo com Seus propósitos. Necessitamos perguntar: qual a finalidade do casamento?
Quando um navio iça suas velas, ele é levado pelo vento, seja essa a intenção ou não. Foi assim que ele foi projetado. Da mesma forma, quando um homem e uma mulher incrédulos se comprometem em um casamento para a vida toda, fidelidade ao cônjuge e a construção de uma família, eles serão levados pelo vento. Deus ama a instituição do casamento, e não-cristãos podem ter um bom casamento e fazer o bem em sua união. Entretanto, os cristãos não estão interessados apenas em serem levados pelo vento, mas em deleitar o Criador do navio.
O casamento, assim como a vida cristã como um todo, tem o propósito principal de glorificar a Deus, e, quando vivemos para isso, descobrimos que assim podemos ter alegria. Paulo notoriamente diz que, quando o marido morre continuamente para si mesmo e a mulher submete-se em amor à liderança cruciforme de seu esposo, o evangelho de Cristo é demonstrado ao mundo (
). O objetivo para maridos e esposas no casamento é resplandecer como manifestações vivas do amor de Jesus. Não podemos ter a expectativa de que nosso casamento irá refletir plenamente esse mistério se aceitarmos propositalmente fazer essa aliança com alguém que não crê que Jesus é o Senhor.Necessitamos sempre manter em mente o real propósito do casamento. A glória e resplendor de Deus e o desejo dado pelo Espírito de levar adiante o Evangelho necessitam informar nossos pensamentos sobre o casamento. Desta maneira, nos unimos em casamento com alguém que nos ajudará a correr a carreira com perseverança (
), adorar a Deus da forma correta, e proclamar Seu evangelho para o mundo, para Sua glória e nosso próprio bem.Traduzido por Renata Jarillo de Restrepo.